Árvore



broto silente a romper o chão

haste que o céu iça

mamulengo a dançar nos cordões do sol

vida que surge

 

as raízes rompem o profundo 

e se prendem vigorosas à terra

a fenda é berço

da semente que torna o diamante apenas carbono

 

mais luz há num embrião se vida

mais que no brilho inerte da pedra

 

depois a superação da fragilidade

a imposição do lenho

mastro a sustentar o velame 

junco que o vento não navega

 

o balé de gaia traz o movimento

enquanto percorre a aba do sol

a elipse redesenha o cenário 

traz a ilusão da dança aos pináculos

 

a sensação de mar envolve os sentidos

nas sombras que ondulam

 

cada anel marca o tempo

no cerne que trinca a casca rude

pele que troca como serpente 

mas sem a vil peçonha que fere 

 

o dossel da copa compartilha 

a trama justa que envolve a vida

e segue os passos que a semente impôs

angústia deixada nas tramas do chão 

 

no entremeio da mata inclemente 

a árvore por fim embebe de luz seu rendado de folhas