Dias indiferentes


há dias indiferentes e que não encantam 

sem importância, sem rumo, sem brilho

a natureza de uma manhã insípida 

sequer tem o movimento do vento a esmiuçar os vãos

o ar parado traz a impressão de que algo esta para acontecer

 

as pessoas se arrastam cabisbaixas pelas ruas

os rostos se tornam mais vincados se traídos pelo desalento

o nada é maior que chorar 

mas se não fosse não haveria lágrimas 

e chorar sem lágrimas continuaria o nada em sua ausência

 

então percorro segredos que deveriam ser esquecidos

aqueles que quando os olhos calassem permaneceriam selados

é que nos dias indiferentes o pensar é inevitável

e os segredos que deveriam ser esquecidos retornam

assim como as histórias que não se esconderam neles

 

os dias indiferentes não se sustentam

não criam lastro, não tomam segredos

passam sem gosto, sem o que os marque na memória

mesmo porque os dias indiferentes são reclusos

e logo se perdem entre outros que contam

 

recolhido em mim o olhar é curto e baço

não há expressão no rosto rígido 

mesmo o mármore traz a emoção dos cinzéis

os dias indiferentes são assim

talvez não contem no correr de uma vida