Sobre netos e avós

(ao Henrique e ao Guilherme, para quando entenderem estas palavras)

 

são dois netos 

um só útero

e se diferentes são iguais

um entre o silêncio e o olhar

o outro entre a inquietude e a irreverência

ainda assim são iguais

e se preenchem com o que os olhos veem

com o que os ouvidos ouvem

com o que os corações sentem e proclamam

 

mesmo longe de decifrar cada devaneio

sei que se importam comigo

como eu me importava com os meus avós

se o envolvimento indica a perenidade do elo

não haveria razão para ser refeito à cada encontro

mas a regra se sobrepõe ao sentimento

o que não me convence

ao avô o sentimento vem antes da regra

 

anos nos separam

uma vida de pais e duas de avós 

um tempo curto para mim 

para eles imenso se maior do que o de suas próprias vidas

e quando passam por mim correndo 

indiferentes da obrigação de um beijo

é a generosidade da idade

a que estabelece o olhar do avô

que entende a pressa e a aflição

há o tempo incessante e o que ele esconde para desvelarem